Precious memories

A Retrospectiva do Spotify chegou e, pela segunda vez seguida, o mesmo disco aparece no topo: “Precious Memories”. E tem uma razão…

8:00 da manhã. Abro a porta daquele quartinho, desligo o ar condicionado e o ruído branco e dou o play no disco “Precious Memories”. Quando mais nova, a recepção era com sorrisos; com o passar do tempo, pode variar entre sorrisos, monólogos ou reclamações por não querer acordar. Assim a Olívia começa o seu dia muitas vezes.

Precious Memories (Preciosas Memórias, na tradução livre) é um álbum do cantor country Alan Jackson que caiu no nosso colo como um presente do céu. Entre todas as músicas do disco, a canção que leva o título do álbum é a que se tornou a mais afetiva, que veio ao encontro do meu coração diante da paternidade.

[Precious memories how they linger, how they ever flood my soul] – “Memórias preciosas como elas permanecem, como elas inundam minha alma”.

Ser fotógrafo faz parte da minha personalidade. Natural e involuntariamente, eu registro, guardo e valorizo na mente cenas da minha vida. Algumas não muito boas no momento em que acontecem, mas que se tornam pedras preciosas ao passar do tempo. Memórias essas também como fotografias, vídeos, músicas, objetos e pessoas que me remetem a momentos marcantes da vida. Se a Disney fizesse um filme “Divertidamente” na minha cabeça, a personagem Senhora Nostalgia estaria no controle de comando.

Em paralelo a isso, a paternidade acrescentou um anseio de deixar registradas as memórias da infância e da vida da minha filha. Primeiro, pelo fato de que ela não vai se lembrar dos acontecimentos da primeira infância; segundo porque penso que será precioso presenteá-la, no futuro, com registros da sua vida; e terceiro, porque, para nós, pais, tudo passa tão rápido, corre o risco de ser esquecido, não volta mais e é preciso registrar. Como diz uma das músicas da minha banda favorita:

Tudo o que tenho de valor são as minhas memórias. Se elas partissem, eu partiria em dois” (Ninguém Mais – Rosa de Saron).

Recentemente assisti “Aftersun”, que se tornou meu filme favorito justamente por retratar o poder das memórias criadas entre pais e filhos. Quando olho os registros dos primeiros meses da Olívia e vejo como ela cresceu rápido, entendo que essas manhãs ritualísticas e as demais características de cada fase vão passar. Por isso, dentro da nossa realidade – que não é perfeita, mas é nossa – escolhemos criar memórias intencionalmente: sejam fotos, vídeos, notas no celular, colagens em um caderno simples ou apenas vivendo aquele momento presente de verdade. Um dia, quando ela ouvir este disco, talvez se lembre dessas manhãs. Quanto a mim, certamente serão memórias inesquecíveis.